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VARIZES DE MEMBROS INFERIORES – O QUE PRECISAMOS SABER

          Em torno de 40% da população brasileira sofre de insuficiência venosa crônica, ou seja, mais de 80 milhões de pessoas apresentam algum sinal ou sintoma relacionado às varizes. Ela acomete mais mulheres que homens e, na prática, observamos que as mulheres costumam procurar o Angiologista e o Cirurgião Vascular em uma fase mais precoce da doença.

          Os principais fatores de risco relacionados ao surgimento das varizes são o sobrepeso, o sedentarismo, gravidez, a idade e o principal deles: a genética. É extremamente frequente nos atendimentos ouvirmos que a doença varicosa acompanha a família há várias gerações, estando presente em avós, pais e irmãos.

O sobrepeso atua na formação das varizes através do aumento da pressão venosa nos membros inferiores. O sangue tem que passar  através do abdome com pressão aumentada para retornar ao coração e continuar o seu caminho. Isso acaba causando lesão das válvulas venosas, dilatação das veias e aparecimento das varizes. Na gravidez ocorre algo semelhante, agravado pelas alterações hormonais.

          Consideramos a panturrilha como um segundo coração localizado na perna. A contração da musculatura leva ao bombeamento do sangue e diminuição da pressão venosa, diminuindo o risco de dilatação das veias. Permanecer muito tempo em pé ou sentado favorece a imobilidade da panturrilha e são também considerados fatores de risco. Todas as pessoas com varizes  de membros inferiores e que não possuam limitações devem ser estimuladas a realizar exercícios físicos regularmente.

          A insuficiência venosa crônica, ou doença das varizes, é uma doença evolutiva e que não tem cura. É comum escutarmos alguém falar que não irá mais tratar as varizes pois elas aparecem de novo. O que devemos fazer com as varizes se assemelha ao tratamento da hipertensão. Ninguém deixa de tomar os remédios de pressão pois a mesma irá subir e causar complicações. Sendo uma doença crônica e sem cura, devemos manter um tratamento constante das varizes, sabendo que se as orientações não forem seguidas os fatores de risco permanecerão atuando e novas varizes irão surgir.

 

          Não existe uma idade a partir da qual as varizes aparecem, porém elas são mais frequentes nos pacientes idosos quando comparado aos mais jovens. Tal fato provavelmente se justifica pelo maior tempo de exposição aos fatores de risco.

          Os principais sintomas relacionados às varizes são dor na perna, sensação de peso, coceira, câimbras, inchaço e alteração da coloração da pele no tornozelo, com surgimento de manchas marrons. Normalmente os sintomas pioram ao final do dia e melhoram com a elevação dos membros inferiores.

          Aproveito a oportunidade para esclarecer alguns mitos. O uso do salto alto não aumenta a incidência de varizes, já havendo inclusive estudos científicos comprovando essa afirmação. Não observamos também relação com o fato de subir escadas ou pular, pelo contrário, esses movimentos levam à contração da panturrilha e bombeamento do sangue. Como já relatado, exercícios físicos devem ser estimulados e, ao contrário do que é falado, não levam à formação das varizes.

Outro mito é o de que o tratamento das varizes se dá somente por motivo estético. A presença de varizes é considerada uma doença e a falta de tratamento nas fases iniciais pode trazer um grande risco aos portadores. Por ter um caráter evolutivo, as manifestações vão piorando com o passar do tempo, podendo atingir as fases mais graves com formação de feridas que levam muito tempo para cicatrizar. A trombose venosa profunda também é outra complicação que tem sua incidência aumentada nos pacientes com varizes calibrosas.

          A base do tratamento consiste em modificar os hábitos de vida evitando os fatores de risco, utilização das meias elásticas e administração de medicamentos que diminuem a inflamação das veias e melhoram os sintomas. O preconceito ainda existe com o uso da meia elástica, mas a tecnologia evoluiu nos últimos anos, tornando-a mais confortável e trazendo mais adeptos ao seu uso.

          Novas tecnologias também têm sido incorporadas ao tratamento invasivo das varizes, aumentando o arsenal do Angiologista e do Cirurgião Vascular na escolha individualizada do melhor método para cada paciente. O tratamento cirúrgico continua sendo o procedimento mais realizado, podendo ser feito com variações que aceleram a recuperação no pós-operatório, como a utilização do laser e da radiofrequência.

          Como atualmente temos uma vida cada vez mais corrida e com menos tempo para cuidar da saúde, os procedimentos minimamente invasivos estão ganhando mais espaço e o tratamento das varizes com espuma se encaixou como uma luva na necessidade dos pacientes. Ele consiste na punção de uma veia comprometida guiada por ultrassom e injeção de uma substância que causa inflamação do vaso e interrupção da passagem de sangue, com posterior diminuição do diâmetro da veia. O procedimento é realizado em consultório, sem necessidade de anestesia e o paciente pode retornar à quase todas as suas atividades até no mesmo dia.

          A nossa saúde é nosso bem mais precioso. Você levaria seu carro a uma pizzaria para ser consertado? Estamos vendo cada vez mais pessoas sem a formação adequada realizando tratamento de doenças como se não existissem complicações relacionadas àquele ato. O tratamento de varizes quando feito de forma incorreta pode levar a complicações graves como manchas na pele, trombose das veias profundas, formação de úlceras, gangrena, infecções e reações alérgicas graves com risco de vida.

         O tratamento de vasinhos com aplicação de glicose, apesar de parecer simples, envolve toda uma avaliação prévia que se não realizada de forma adequada pode acabar agravando uma condição que inicialmente parecia ser apenas estética. Em relação ao tratamento de varizes com utilização de ozônio a situação é ainda pior. Não há evidências científicas da eficácia e segurança desse procedimento no tratamento de varizes, já havendo inclusive uma nota de repúdio emitida pelo Conselho Federal de Medicina contra o projeto de lei que autoriza a ozonioterapia.

Somente um profissional médico com treinamento é capaz de indicar o melhor tratamento,  identificar os possíveis efeitos adversos e evitá-los, além de tratar de forma mais precoce as complicações, reduzindo assim os desfechos dramáticos que cada vez mais temos presenciado.

          O Angiologista e o Cirurgião Vascular são os profissionais que possuem formação adequada para apontar com segurança qual a melhor técnica a ser empregada em cada caso.

Frederico Augusto de Carvalho Linhares Filho

Médico Cirurgião Vascular

Presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular - Regional Ceará

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